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Channel: Ciência e Tecnologia – Viés | O outro lado da rede
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SOMOS AMIGOS AGORA?

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De tanto ler materiais detonantes sobre as “amizades facebookianas” decidi escrever um artigo em defesa das relações virtuais. Vi pessoas comparando as amizades do Facebook com amigos de infância, ou com a chamada amizade verdadeira. Vi comentários, no próprio Facebook dizendo: – “É meu amigo no Facebook mas passa por mim e nem me cumprimenta”. Por isso proponho aqui um desdobramento destas situações.

Vamos começar esclarecendo que eu não concordo com a definição que posiciona o virtual em contra partida com o real, como se fossem opostos. Até um gráfico virtual em um game é baseado e estruturado no mundo físico. São simuladores de realidade, e portanto, realistas. Aqui trataremos de duas realidades paralelas, a virtual e a material – mundo físico, para que nossa visão no seja distorcida por conceitos equivocados.

Amigo de verdade é aquele em que você pode confiar plenamente, aquela pessoa à quem você conta seus segredos mais íntimos. Se todas as pessoas a quem você chama de amigos, baseadas nas relações que você desenvolveu no plano físico, fossem submetidas a este conceito, quantas sobreviveriam? Digo, quantas ainda seriam chamadas de amigos?

Amigos de infância são aqueles amigos que conhecemos na infância e que ainda mantemos relações amigáveis ativas. Descartadas estas duas exacerbações da palavra amigo, concordamos que a maioria de pessoas a quem denominamos como amigos são aquelas pessoas com quem desenvolvemos relações amigáveis e este é o parâmetro que orienta a definição existente no Facebook – pessoas com as quais estabelecemos empatia, com vistas a desenvolvermos uma relação amigável.

Parece boba esta discussão, porque parece óbvia, mas não é. Se fosse tão óbvia não surgiriam comentários como aquele que vi compartilhado, tendo em vista que se pode ter uma relação amigável com diversos tipos de sujeitos e por diferentes motivos. Não significa que cumprimentaremos a todos com quem nos relacionamos na rede virtual quando cruzamos com eles pessoalmente, por vários motivos: existem pessoas que no âmbito pessoal são extremamente tímidas, existem aquelas que são irreconhecíveis pessoalmente porque nem sempre há fotos nos perfis e existem ainda aquelas com quem desenvolvemos uma relação mais de compartilhamento de informações do que de identificação pessoal. Também há casos em que relacionamentos são iniciados no meio virtual se tornam extremamente sólidos e profundos.

Lembro de um filme, produzido em 1987 – protagonizado por Anne Bancroft e Anthony Hopkins – que se chamava “Nunca te vi, sempre te amei”. Neste filme o casal troca cartas por 20 anos e se apaixonam profundamente sem nunca sequer terem visto a imagem do outro. Foi sucesso de crítica, ganhou prêmios na Inglaterra – BAFTA 1988 e em Moscou – Festival Internacional de Cinema de Moscou 1987. Claro que muito deste mérito se deve a incrível interpretação dos protagonistas, mas além do talento destas duas estrelas temos como tema uma relação duradoura, íntima e profunda completamente construída sobre o intangível – palavras escritas em cartas pessoais. Mas afinal, todos os relacionamentos não se baseiam, pelo menos inicialmente, no intangível? Para cada pessoa que conhecemos mostramos apenas aquilo que queremos que seja visto, nossos pontos fracos geralmente guardamos para nós. Levanto esta questão para pensarmos se realmento o fato de estarmos a milhas de distância de alguém é razão para não o conhecermos bem, ou por outro, se estar frente a frente com alguém é motivo suficiente para confiarmos no que vimos e ouvimos.

 Não se deve generalizar as relações virtuais nem pelo lado negativo nem pelo lado positivo. Digo isto porque existem também aquelas pessoas que tratam a todos como se fossem amigos íntimos, aplicando uma intimidade que não foi trabalhada, entregando uma confiança que tampouco foi conquistada. Estas pessoas acabam tornando-se vítimas de trotes, estelionatos e até sequestros e crimes graves.

Vamos pensar na rede internet como se fosse uma imensa avenida muito movimentada – a 5° avenida, por exemplo, o Times Square em dia de ano novo. Você sentaria ao lado de um desconhecido no ônibus e sairia contando a esta pessoa seus segredos, intimidades, rotinas? Ou ainda, você se sente capaz de sair caminhando pela 5° avenida em trajes mínimos? E no seu ambiente de trabalho? Mas você posta isto na rede internet, sem considerar a exposição a que você está se submetendo neste momento.

Quando se navega na rede internet por mais privado que seu espaço pareça ele não é tão privado assim. Pense bem! Você pode ter um perfil privado ou participar de um grupo fechado, mas esta página tem quantos participantes? Cada um destes participantes é um propagador de informações. O que na minha opinião é muito positivo, porque eu tenho consciência do que eu quero tornar visível. Tanto que minha página é pública.

Sim! Há pouco mais de um ano, tornei minha página do Facebook pública. Foi na época das grandes mobilizações, onde o Facebook deixou de ser um “jardim de unicórnios” e passou a ser um lugar onde as pessoas realmente estavam ali debatendo, falando o que pensam, sem se preocuparem em serem agradáveis ou palatáveis. Devo confessar que foi um momento de felicidade. O interessante desta experiência é que, apesar de postar assuntos polêmicos e bastante controversos, ninguém na minha página fez comentários agressivos ou desrespeitosos a qualquer outra pessoa ali. Naquele mesmo momento o Facebook enchia-se de gente reclamando que em suas páginas, que não eram públicas, encontrava-se quase que diariamente, xingamentos absurdos entre as pessoas dos espaços em questão. Entendi com esta experiência que, assim como nos espaços físicos compartilhados, as relações de amizade se estabelecem e se desenvolvem de forma análoga nos espaços virtuais, isto é, para mim respeito é fundamental, é uma lei básica de convivência. Penso que foi por isto que na minha página eu não passei por esta experiência negativa, mas tive o prazer de ver muito debate de ideias naquele momento histórico da rede social em nosso país.

Como ciberativista que sou defendo plenamente a rede, seu uso amplo e o compartilhamento de materiais, mas para estabelecer relações saudáveis, tanto na rede, como fora dela, seguimos sempre alguns parâmetros que não devem ser abandonados no espaço virtual.

Uma vez estava eu jogando war e um dos participantes começou a conversar comigo. Fez as perguntas de aproximação, (quebra-gelo) como a minha profissão, o meu país, (porque no war existem pessoas de vários países participando). Então começaram as perguntas pessoais e eu respondi que aquelas perguntas eram pessoais demais, que eu não responderia tais perguntas a alguém quem acabei de conhecer. Ele não falou mais comigo. Ok, paciência, talvez eu tenha me livrado de uma grande roubada, pensei.

O termo amigo usado no Facebook define todos aqueles indivíduos que são aceitos dentro do espaço pessoal de cada um, a fim de estabelecer convivência, trocar opiniões e informações. O processo de relacionamentos em rede é extremamente novo e tem várias nuances. É um novo processo de socialização que se estabelece e não devemos repudiá-lo ou bancarmos os preconceituosos que simplesmente se excluem de algo antes mesmo de ter experimentado. Digo o mesmo sobre o twitter, que considero uma tremenda fonte de informação se você souber escolher a quem seguir.

Devemos sim ampliar o olhar sobre esta questão de relacionamentos em rede pois, quanto mais expandimos a nossa rede de convivências, mais oportunidade temos de informação e de conhecimento. Somos animais sociais e esta é a nossa definição primeira. Não há neste mundo um ser humano que seja pleno sozinho.

Então, respondendo à pergunta que originou este texto – Somos amigos agora?

Sim! Quando eu te adicionar no meu Facebook estaremos sim estabelecendo uma relação de amizade, que prevê respeito mútuo, compartilhamento, apoio e sempre com vistas ao crescimento e ao desenvolvimento como devem ser as relações positivas.


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